entrevista

Líder comunitário da Nova Santa Marta fala sobre as lutas e desafios da comunidade

Da Redação*

Foto: Arquivo Pessoal
Eder Ponpeo com a mulher no Parque da Medianeira, aproveitando um final de semana

O líder comunitário do Bairro Nova Santa Marta Eder Ponpeo, 56 anos, luta pela comunidade desde 1991. Ele e a esposa, Ivanete Unfer Ponpeo, 50 anos, foram morar no local, com o primogênito, Vagner Ponpeo Filho, 26 anos, para tentar melhorar as condições de vida.

A filha caçula do casal, Vitoria Ponpeo, 22 anos, veio mais tarde, quando a família já estava instalada na Avenida Principal 2, na Vila Alto da Boa Vista. Eder já trabalhou em diversas frentes, mas foi na ajuda ao próximo e ao bairro que ele encontrou o dom da vida.

O Diário conversou com ele sobre o desenvolvimento e das dificuldades do Bairro Nova Santa Marta. Confira a íntegra abaixo:

Foto: Arquivo Pessoal
Eder em sala de aula, na escola Marista Santa Marta, falando sobre a história do bairro

Diário - Por que o senhor decidiu morar no Bairro Nova Santa Marta?
Eder -
Nós pagávamos aluguel. À época, não era nada barato, já que, a cada seis meses, a inflação subia. Queria ter minha casa própria e investir em minha família. Quando soubemos que o bairro estava sendo ocupado pelo Movimento Nacional de Luta pela Moradia, viemos ver a situação. Ivanete e eu resolvemos nos mudar, mesmo que o Vagner estivesse com um ano. Passamos bastante trabalho aqui. Quando chegamos, só tínhamos o terreno. Água, luz, esgoto e asfalto foram chegar à comunidade anos mais tarde. Quando eu saía para trabalhar, era a Ivanete que ficava cuidando do nosso pequeno e também da nossa casa. Os vizinhos, que eram poucos e moravam distante, também se cuidavam, já que não tínhamos segurança. Na década de 1980, não tínhamos carro e utilizávamos o transporte coletivo para o deslocamento até o bairro para que pudéssemos limpar e preparar o terreno para a construção. Foram anos construindo. Hoje, a comunidade chega a ter mais de 25 mil pessoas. É maior que muitas cidades do interior. Todos os dias, lutamos pelo bairro, e nossa vitória será o dia em que cada morador tiver o documento com a pose do seu terreno. 

Religioso utiliza música para evangelizar crianças e adolescentes

Diário - De que maneira o senhor vê o desenvolvimento do bairro?
Eder -
Logo no início, nós trazíamos pessoas e instituições que poderiam nos ajudar com o crescimento do bairro. Alguns ajudaram e permaneceram, outros não. A Igreja Católica, junto dos irmãos maristas, mataram a fome de muitas pessoas aqui da comunidade. Eles também fizeram arrecadações e levaram donativos aos mais carentes. As Aldeias SOS também vieram para o bairro para cuidar das crianças e dar mais oportunidade de trabalho aos pais. À época, a ideia era de também fazer uma grande creche, mas os Irmãos Maristas construíram, em 1998, um colégio com 400 vagas para crianças e adolescentes. Foi uma escola que agregou muito na história do bairro. Pudemos ajudar muitas crianças desde que ela se instalou no local. Íamos nos apegando com as ajudas que recebíamos. Também tivemos um espaço para reuniões da associação dentro da escola para nos organizar. 

Foto: Arquivo Pessoal
Entrega de doações da campanha do agasalho 2017, na escola Marista Santa Marta com o vice prefeito Paulo Roberto Ceccin

Diário - E, atualmente, qual é a situação da comunidade Santa Marta?
Eder -
A partir de 2004, começamos a ter as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Elas foram essenciais, já que não tínhamos estrada. Era tudo de chão batido. Isso transformou a autoestima dos moradores. Vimos que, unidos, podíamos melhorar o bairro. Após os governos populares saírem do cargo, as obras aqui no bairro pararam, mas não deixamos de correr atrás. Revitalizamos a pracinha do bairro pela segunda vez. Desenvolveu muito pouco, mas o que conquistamos, a gente mantém. Mas ainda não temos a regularização dos terrenos, mesmo depois de 10 anos. É uma luta que ainda carrego, que ainda quero ganhar. Já cadastramos e recadastramos a população, mas nada saiu do papel. Gostaríamos muito dessa conquista. 


Servidor aposentado da Rádio Universidade e tutor da mascote Gisele fala sobre lembranças de Santa Maria

Diário - Por que o senhor e a família decidiram ficar?
Eder -
Ainda temos esperanças e acreditamos que iremos ganhar a pose das terras. Resistimos porque, do contrário, estaríamos pagando aluguel até hoje. Se não tivesse ficado, estaria indo ao contrário das minhas convicções. São poucos que ainda estão morando aqui. Quero lutar pela nossa comunidade até me aposentar. Queremos fazer um espaço para fazer uma cozinha comunitária para matar a fome de muita gente, para pegar alimentos, donativos, roupas. Meu sonho é ver o bairro crescer. 

Foto: Arquivo Pessoal
Preparando as pipocas para o cinema na comunidade 2017, com Gerson Silveira, Liziane Marafiga e Antonio Dillar

Diário - Para o senhor, qual o significado que a família tem em sua vida?
Eder -
Eles são essenciais. Se não fossem meus filhos, minha esposa, a minha mãe Ilda Teixeira Ponpeu (falecida) e minha irmã Simone Aparecida Teixeira Ponpeo, não estaria onde estou hoje. Eles seguram as pontas sempre. Somos muito religiosos, Nossa Senhora Aparecida é a santa da qual somos devotos.


Foto: Arquivo Pessoal
Foto da família com Paulo Ribas, genro (à esq), Ivanete Ponpeo, esposa, Éder Wagner Ponpeo Filho (à dir). A filha Vitoria Ponpeo (sentada à esq.), Ilda Pompeo, mãe (falecida) e Andressa da Silva, nora

*Colaborou Natália Venturini

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